quarta-feira, 23 de abril de 2008

O verdadeiro significado de um corte de cabelo

Entrei no salão de beleza decidida. Já havia ensaiado diversas vezes o que diria a cabeleireira quando me perguntasse como eu gostaria de cortar. Antes do dia do corte, passei algumas horas me olhando em frente ao espelho analisando. Puxa o cabelo pra cá, puxa pra lá, prende pra cima. Enfim, tudo na tentativa de mudar o visual.

O grande dia chegou. Quando sentei na cadeira lavatória, minhas mãos começaram a suar frio. Senti uma fisgada no estômago e meu coração automaticamente começou a bater rapidamente. A moça que lavava o meu cabelo nada percebia. Continuava com seu trabalho dedicadamente. Lavou três vezes minhas madeixas suavemente. Geralmente eu teria gostado desse procedimento, mas não naquele dia, não naquele momento. Sentia vontade de sair correndo dali. Me sentia estranha, com medo.

Quando a pergunta fatídica finalmente ecoou nos meus ouvidos, a resposta não pôde ser outra:
- Corta apenas as pontas.

Saí de lá aliviada, porém bastante pensativa. Porque havia ficado tão nervosa? Porque tememos tanto as mudanças?

O que importa nisso tudo, não é o corte do meu cabelo, mas o temor que muitos de nós temos de modificar algo em nossas vidas. Todos em algumas circunstâncias tememos o desconhecido. Nos acomodamos com o que já temos ou conhecemos e esse é o maior erro. Deveríamos ter coragem de nos arriscar mais, de não se importar com o que os outros irão falar. O que realmente interessa é que cada qual se sinta bem consigo mesmo.

Na próxima vez que sentar na cadeira da cabeleireira vou dizer:
- Quero radicalizar!

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Paredes

Ah se falassem as paredes do meu quarto.
Haveria tanto a ser dito.
Elas me abrigam do mundo...

Presenciam as noites em que o sono não chega e também as lágrimas que frequentemente rolam sob minha face por saudade, solidão, por uma nova decepção ou por frustração.

Elas estão ali durante conversas confidenciais, durante os momentos em que faço coisas que não quero que ninguém mais veja, porém, nunca traem, nunca mentem, nunca enganam.

Nos momentos de profunda tristeza, angústia e dor, dentre elas é que encontro a compreensão para os meus mais confusos sentimentos.

Delas jorram a pureza, a veracidade e a ingenuidade dos meus mais sinceros pensamentos e atitudes. Estes muitas vezes mal interpretados pelos homens.

Quisera eu que de vez em quando as pessoas fossem paredes.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Percepções

Ainda estamos no verão e o sol ainda não despontou no céu. A brisa da manhã ainda é gelada e o que mais visualizo na rua são pessoas apressadas e motoristas impacientes. O trânsito, como geralmente ocorre, está caótico.

Passo a observar atentamente as pessoas. Todas com um semblante sério, como se estivessem de mal com o mundo. São os olhos, no entanto, que me chamam a atenção. Pequenos oceanos profundos, misteriosos, singelos, tristes...

Dizem que os olhos são as janelas da alma. Concordo com essa afirmação. Eles podem não dizer nada, mas dizem tudo. Com palavras, todos podemos mentir, enganar. Mas os olhos... ahh os olhos. Eles parecem ter vontade própria. Expressam exatamente o que passa lá no fundo do nosso coração, da nossa mente, da nossa alma.

É... são esses olhos impacientes, risonhos, sonhadores, de quem quer conquistar o mundo, que por enxergar nessa manhã gelada. Só precisei prestar atenção e sentir. Sentir que todas essa pessoas, antes de começar em seus respectivos trabalhos, viajam em seus pensamentos e chegam no ponto mais profundo de suas almas.

Quando a campanhinha do ônibus toca, é o momento em que se deve retornar ao mundo real. O sol agora está timidamente aparecendo atrás das nuvens. Finalmente, mais um dia começou e a vida segue.