terça-feira, 3 de maio de 2011

Ser inteira

Algumas pessoas sabem usar as palavras para nos abraçar melhor do que a maioria sabe usar os braços. Senti vontade de escrever sobre isso. Percebo que mesmo quando não estou realmente escrevendo, rascunho sempre algo dentro de mim.

Saio vazia pela rua, ando no meu bairro, percorro um trilho sinuoso que me obriga a seguir sempre em frente não importando a direção. Algumas ideias na cabeça e um fim de tarde de outono. Não preciso de muita coisa. A impressão que fica é a de que não estou ali. Bom, acho que na verdade não estou mesmo. E então em volto, cheia.

Cabe a mim encontrar um destino para tudo que me ocupa nesses momentos e me faz ter vontade de descrevê-los. Acredite, são nessas andanças sem rumo que somos contemplados com algum lampejo qualquer que faça sentido. A gente não o procura e muito menos espera por ele. Simplesmente surge algo nebuloso e digno que vem da alma, aliado a necessidade de compartilhar isso com o primeiro ser humano que apareça na sua frente. Nesse instante, o que você mais deseja é tentar contagiar aqueles que estiverem dispostos a pararem uns minutos para lerem o que você começou a escrever mesmo antes de sentar em frente ao computador.

Quando você escreve, o objetivo é sempre, de alguma maneira, fazer com que quem leia se sinta abraçado pelas singelas linhas. Ao mesmo tempo em que isso pode soar utópico demais, acredito sinceramente que realmente alguém se sentirá tocado por aquilo que for ler. Escrever, definitivamente, pertence aos que não são pela metade.

sábado, 26 de março de 2011

O tempo, que passa o tempo todo

Estou preocupada com o tempo. Sinto que ele me foge rápido demais, vertiginoso demais. Sinto que o persigo e que ele me olha de longe, sempre à minha frente, virando alguma esquina.

Confesso que tenho um pouco de medo do tempo. Temo as mudanças que não posso prever, controlar ou conter. Estremeço diante da falibilidade dos planos, da mutabilidade das feições e da efemeridade dos momentos. Os espelhos me deixam inquieta. Nele nunca se mantém refletida a mesma imagem. As mudanças estão lá: inegáveis e irrevogáveis. Assustam-me as roupas que diminuem de tamanho dia a dia e aqueles sapatinhos que pensei que nunca fossem servir e que agora já estão a ponto de ficarem apertados.

Ando sentindo o tempo com uma agudeza que às vezes não me agrada, como se estivesse o tempo todo em uma despedida do minuto anterior. Ando vendo o tempo, o tempo todo a me sinalizar que está passando, o tempo todo a me lembrar de coisas no pretérito perfeito.

Mas que bobagem a minha. O tempo não nos foge. Não nos escapa por entre os dedos, porque na verdade nunca esteve em nossas mãos. O tempo simplesmente existe e não sei se ele passa ou se passamos por ele.

É, o tempo não é nosso. Ele não pode ser perseguido, retido ou manipulado. Não dura além dos momentos de felicidade ou infelicidade. Ele passa inexorável, imutável e indiferente. Não espera e não se apressa.

A nós, resta lembrarmos que, na verdade, não se perde nada com a passagem do tempo. Porque o futuro nunca nos pertenceu. Ele é apenas a projeção daquilo que esperamos ou tememos. O tempo não nos tira nada. Ao contrário, seu passar é um presente.

Porque não se perde uma juventude, um bebezinho, ou dias passados. Mas, ganha-se maturidade, um filho com quase três meses, adolescente ou adulto e dias passados. O importante é lembrar que o que de fato nos pertence são os momentos fortes o bastante para ficarem impressos na memória.

E o tempo sempre estará por aí, para nos acrescentar dias, memórias, rugas, filhos, netos e neuroses ao longo do período que usamos para gastar o oxigênio disponível no planeta. Só o que espero é que no final todos os batimentos cardíacos tenham valido a pena.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Meu raio de sol

Ela adormeceu, mas a gargalhada dela ainda ecoa pelo quarto. E como é verdadeira. Incrível que ela não morre quando acaba. É possível ouvi-la mesmo no mais intenso silêncio. E ela, justamente, me dá a percepção de que tudo não é apenas um sonho.

Estou sob aquela luz pálida de um dia que termina. A pouca claridade se filtra pelas frestas da janela e suspiro, tentando assimilar a grandiosidade de tudo o que se passara.

A vida é outra, tem outro sentido. Me recostei melhor nos travesseiros e sorri. Tranquilamente. Esperando por respostas que passaria a vida para tentar encontrar. Antecipando o sabor de cada descoberta. O futuro me sorri, misterioso, imprevisível, inabalável.

Quero acertar. Desejo poder fazer tudo certo e aproveitar cada um dos dias que se descortinam à minha frente, como as promessas dessa tarde quente, ensolarada, sem nuvens ou perturbações.

Serei o melhor que puder. Sensata, corajosa, amorosa, criativa, brava, carinhosa, responsável. Errarei querendo acertar, acertarei quando achar que estiver errada. Terei hábitos saudáveis, mudarei o mundo, farei greve de fome, de sono e terei nessa nova condição o meu porto seguro. Farei mil coisas ao mesmo tempo. E não se cansarei de tentar, de repetir e de viver.

Agora, viro o rosto para o lado, na direção dos últimos raios de sol. Os mesmo que iluminam o frágil ser de respiração acelerada, olhos fechados e boca entreaberta. A pequenina está imersa em um sono tão tranqüilo, que só pode ser mesmo o resumo da própria felicidade.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Um lugar comum ambulante

Durante a gravidez muita gente me falou muita coisa diferente. Mas, porque ninguém me contou que esse cheirinho de bebê impregna na alma, que esse sorriso sem dentes é a coisa mais encantadora do mundo e que sentir a pele macia do seu bebê no rosto é uma sensação impagável? Porque me assustaram tanto e esqueceram de me dizer que todas as dificuldades ao se tornar mãe não são nada perto desse turbilhão de sentimentos bonitos que invadem cada pedacinho da gente.

Depois que me tornei mãe, não durmo ou me alimento como antes, é verdade. Também não consigo mais terminar uma página inteira de um livro sem dar uma olhada pra ela, só pra confirmar se está tudo bem. Deixei de fazer muitas coisas que antes considerava importante. E, por incrível que pareça, descobri que não me importo com isso. A maternidade me fez compreender que poucas vezes antes fiz coisas tão simples com o prazer eufórico de uma primeira vez constante.

Os filhos mudam alguma coisa de fundamental em nós, já que sempre será a primeira vez deles em algo. Eles nos transformam em pontos cruciais e alteram toda nossa forma de pensar. Nos ensinam que existe algo mais importante que nós mesmos e que o agora importa muito, principalmente na medida que ele constrói um futuro que será compartilhado.

Sabe, esse papel realmente muda muita coisa. Depois que me tornei mãe virei adepta dos clichês, por exemplo. Aceitei que os filhos são tudo em nossa vida, que uma pessoa nunca amou ninguém até ter um filho, que não há mal que dure para sempre, que não existe mãe sem peso na consciência, que tudo o que fazemos é pensando no melhor para os filhos. E o pior de tudo: compreendi que minha mãe não me ameaçava quando me dizia que certas coisas eu só entenderia quando tivesse filhos. Sim, pessoas, eu sou um lugar comum ambulante. Não que isso seja ruim. No fim das contas, acho que esses clichês são cheios de uma verdade tão grande que irrita mesmo. Porque na maioria esmagadora dos casos, não há como discordar deles.

E descobri que se me fosse dada a chance de escolher outra vida, outro caminho e outras circunstancias, eu provavelmente declinaria a oferta. Eu certamente ia querer o que tenho, da maneira que tenho: com as vantagens, com o cansaço, as lágrimas, os sorrisos, as gargalhadas, os sonhos, as brincadeiras, o choro, as febres, as trocas de fralda, os aprendizados e as realizações. Porque são exatamente essas coisas que me permitem dizer, sem medo de errar ou de parecer boba, que ser mãe me tornou uma pessoa melhor e extremamente feliz.

sábado, 16 de outubro de 2010

E o pra sempre sempre acaba

Foi como abrir a porta e dar de cara com o nada. Nem notou que o local onde estavam era o mesmo da tarde ensolarada em que tudo começou. Era como estar lá sem perceber ou ser percebido. Todos aqueles anos se resumiam em uma pequena sacola com objetos pessoais que ela entrega com um olhar sem brilho.
Ele tenta puxar um assunto qualquer para tornar o momento menos pesado. Ela responde. O assunto morre. Olhar sem foco. Pronuncia então algumas frases previamente ensaiadas e se sente ridículo assim que termina. Dá um sorriso meio sem graça, completamente diferente daqueles que trocavam nos momentos de cumplicidade. É assim quando tudo acaba.

- Te ligo uma hora dessas, ela fala.
- Tudo bem, ele responde sem expressão alguma.

Ele sabe que essa ligação não virá e se sente esquisito por não se importar com isso. Dá um abraço formal nela, sem se excitar com a proximidade com os fartos seios que encostam no seu peito. Não consegue mais pensar em nada. Entra no carro e simplesmente dirige apressado para qualquer lugar.
Aquilo que começou em uma tarde quente de verão, terminou naquele instante nublado e cinzento de uma estação qualquer. Os pensamentos dele voltam. Amores no fim são todos iguais. Começam alegres em um belo dia de sol e acabam tristonhos em uma hora qualquer. Tudo bem, ele reflete. Amanhã será domingo e o tempo estará leve outra vez.

(Trecho de um conto que estou rascunhando)

domingo, 11 de julho de 2010

Contando estrelas

Encosto o rosto bem perto da janela e arregalo os olhos para imergir na noite. É quando a escuridão chega que o sol nasce em mim. Aprecio o céu estrelado, o cheiro que vem da penumbra e da brisa noturna.
Quando era mais nova, inclusive, sonhava com uma cama que fosse como um observatório, coberto de vidro. Imaginava um lugar onde pudesse dormir um pouco fora do quarto e muito dentro do nada. Porque, o que eu verdadeiramente queria, era passar a noite contando estrelas, imaginar sentidos para as nuvens, refletir sobre os meus problemas de menina e principalmente, entender o significado de sentimentos guardados no peito.
Ainda me recordo de quando olhava o céu enquanto andava de carro. Eu ficava me questionando sobre o porquê de estar no mundo. Eu acho que tinha uns oito anos e ninguém sabia de meus pensamentos.
Hoje eu falo demais, e a maioria das pessoas acha que conhece meus devaneios. Só o que elas não sabem é que nem sempre falo tudo o que sinto. Em muitos momentos, sou um mistério para mim mesma. E gosto quando estou descobrindo algo mais sobre o que e quem sou.
Quando a escuridão toma conta e sinto a brisa, sei que ela realmente me conhece. E eu nem preciso dizer nada.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Infinito

No infinito da minha mente existe um abismo onde caio e me perco. Passo muito tempo à procura de saídas. E fico por horas perdida em mim. Penso que de nada importa os meus pensamentos sem que eu enxergue o mundo inteiro. E cada vez mais tenho certeza de que o movimento das pessoas no meio da rua, a voz de alguém que chama alto por outro, a vida em pedaços contada em linhas de texto e de palavras gastas e tudo o mais que não consigo descrever é exatamente o que guardo para mim como o mais belo, mais simples e mais importante. Então desfaço a mistura de imagens que me prendem a mim e fico assim, sentada em qualquer lugar, há espera de entender o infinito.