domingo, 9 de maio de 2010

Intim(a)idade

Dia desses vi aqueles olhos presos aos meus. Apreciei por um longo tempo o brilho que deixava transparecer. Não era tão jovem quanto da última vez que observei com atenção. Estava mais maduro, mais sofrido.
Fazia algum tempo que não prestava atenção naquele rosto familiar. É clichê, mas falam por aí que através dos olhos é possível ver a alma. Acho que agora acredito nisso, porque vi a alma daqueles olhos.
Analisei profundamente aquele olhar e tentei descobrir mais sobre seus verdadeiros sentimentos, desejos, angústias, medos. Desejei mesmo ter o poder de entender cada característica daquela existência. O que os olhos expressavam naquele final de tarde?
Questionei sobre destino e casualidade, sobre alegria e tristeza, sobre mentira e verdade. Não consegui ter certeza de nada. E a certeza também não era relevante naquele momento. Entre perguntas sem respostas e respostas sem perguntas descobri que aquela alma era como uma dança. A função daquele olhar era encontrar o ritmo exato para aquela coreografia existencial. E, enfim, acho que consegui.
Dançamos uma melodia íntima e silenciosa. Naquele silêncio tudo foi dito. E decidi que não poderia nunca ignorar aquele ser humano e aquele relacionamento íntimo. Foi um bom encontro de olhares.
Depois daquele dia, sempre retorno demoradamente ao local da primeira vez em que nos olhamos de verdade. E quando estou lá, tudo faz mais sentido. Eu demoro porque mergulho nele sem medo. Ele já não reclama das minhas visitas frequentes. O espelho me mostra pra mim mesma. Através dele eu conheço coisas sobre minha alma. Lá eu não posso me esconder. Lá eu fico inteiramente exposta.