quarta-feira, 16 de julho de 2008

O som do silêncio

Já era tarde. Estava chegando em casa e apesar do calor incomum que fez durante o dia, a noite estava gelada. Estava caminhando lentamente. Uma sensação de leveza percorria todos os meus poros. A overdose do Renato Russo já estava agindo no meu corpo. Acabara de assistir, em boa companhia, a peça que me fez ter ainda mais certeza da importância de viver realmente cada segundo. Como diz a letra, é preciso amar as pessoas, como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra pensar, na verdade não há.

O caminho até o portão da minha casa era curto, mas queria prolongá-lo, mesmo com o frio, estava me sentindo tão bem. Meu corpo flutuava. Percebi que o único som que podia ser ouvido era o dos meus passos, leves e lentos. Fechei os olhos e parei de andar. De olhos fechados tudo pode ser mais intenso. A visão limita a possibilidade de sentirmos. Ali parada, de olhos fechados, tudo o que podia sentir era o som do silêncio. Há poucos minutos atrás havia falado com um amigo meu, um grande parceiro, sobre esse assunto. Durante a conversa, comentamos que muitas vezes o silêncio pode dizer mais do que mil palavras. Estava tendo a prova disso naquele momento.

O vento frio roçava meu rosto, como se me acariciasse a pele de uma maneira gentil e suave. Meu coração batia forte e pude sentir cada gota de sangue que circulava no meu corpo. Tudo parecia tão visível e, contudo, eu estava com os olhos fechados. O tal equilíbrio, que naquele momento não estava tão distante, me fez andar até minha casa e começar a escrever esse texto, que não quer dizer muita coisa, porque muitas vezes coisas importantes que desejamos dizer ou saber, não precisam ser vistas ou ouvidas, bastam ser sentidas.

Um comentário:

Anônimo disse...

ótimo texto, assim despretensioso, que só serve para percebermos que esses pequeninos detalhes que nos passam despercebidos todos os dias são a tradução mais natural da alma, das sensações e dos sentimentos.